quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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“É preciso amar o espaço para descrevê-lo tão minuciosamente como se nele houvesse moléculas de mundo, para enclausurar todo um espetáculo numa molécula de desenho”. (BACHELARD, 1957, p.167).

Posterior a um mergulho na “Poética do Espaço” de Gaston Bachelard seria possível extrair uma metodologia, ou mesmo uma pedagogia da imaginação criadora? Provavelmente.
A abordagem fenomenológica do espaço poético de Bachelard é entrecortada pela intenção de preparar o leitor a tornar-se também esse ser imaginante e produtor das imagens que irá habitar.
Esse entendimento do espaço á partir da imaginação criativa da poesia é elaborado partindo do “[...] estudo do fenômeno da imagem poética quando a imagem emerge na consciência como um produto direto do coração, da alma, do ser do homem tomado em sua atualidade”. (BACHELARD, 1957, p.2).
Essa noção tão incorporada por Bachelard, de uma consciência que sonha, leva-o a esclarecer o problema fenomenológico da alma, o autor define então que (1957, p.6): “[...] a alma vem inaugurar uma forma, habitá-la, comprazer-se nela”. E citando Pierre-Jean Jouve: “A poesia é a alma inaugurando uma forma”.¹
Certamente na reflexão da compreensão de uma imagem tem-se a alma como a “luz poética interior” (1957, p.6), uma alma que se expressa, que produz todo um elenco dinâmico de imagens no psiquismo, esse fenômeno para o ser desperto, consciente do devir da imagem, elabora um salto que incide na transformação dessa imagem, dessa luz poética expressa pela alma, em linguagem, trata-se de uma salto de materialização, de dar forma a essa alma através da manifestação da arte poética.
Essa manifestação da linguagem poética concentra o ato criativo, e só é criação pura no momento que essas imagens são independentes de responder a ecos de um passado, desprendem-se de uma memória, estão libertas de um “[...] nexo causal que as reduz a sintomas de traumas e recalcamentos”. (RODRIGUES, G.H., VITOR, 2005).
Bachelard define essas imagens como uma “novidade psíquica”, e se tais imagens se designam por serem libertas de um passado, devem ser entendidas como quebra, ruptura, sempre se projetando num futuro, por isso a noção que o ato criativo carrega o ímpeto de colocar algo novo no mundo:

A imagem torna-se um ser novo na linguagem, expressa-nos tornando-nos aquilo que ela expressa - noutras palavras ela é ao mesmo tempo um devir de expressão e um devir do nosso ser. Aqui a expressão cria o ser. (1957, p.7)

“Com sua atividade viva a imaginação desprende-nos ao mesmo tempo do passado e da realidade. Abre-se para o futuro”. (BACHELARD, 1957, p.18). Portanto trata-se de evadir-se da função do real e ampliar, acrescer a função do irreal. A atividade que nos interessa é a deformação da realidade, e tomando a obra de Bachelard, focamos numa ampliação da reflexão sobre o habitar, expondo expressões de almas poéticas produtoras de imagens que vão se fixar, habitar espaços, fundar lugares.
Há, então, uma noção expandida, ampliada de um espaço que se estende a medida da imaginação do ser criativo. O habitar poético é irredutível à morada aprisionada num espaço semântico, porque é devir: “[...] o devaneio coloca o sonhador fora do mundo próximo, diante de um mundo que traz o signo do infinito”. (BACHELARD, 1957, p.189).

“Toda doutrina do imaginário é necessariamente uma filosofia do excessivo”. (BACHELARD 1957, p.214).

“Assim seguindo um método que nos parece decisivo na fenomenologia das imagens e que consiste em designar a imagem como um excesso da imaginação [...]”. (1957, p.123).

Exagerar, tornar-se ao mesmo tempo extenso e aprofundar-se no espaço, quebrando as amarras do realismo da imagem e ir habitar, mais que um espaço concreto, um espaço íntimo: “Mas o sonhador, antes de tudo, está certo de encontrar uma morada, uma morada na medida de seus sonhos”. (BACHELARD, 1957, p.14).
O elenco de imagens arranjadas na obra nos dá essa noção fluída dos espaços imaginados e esse estudo põe-nos diante de um espaço extenso que transpõe os limites na casa habitada, já que habitamos na imagem sonhada, “levamos para a casa nova nossos deuses domésticos” (BACHELARD, 1957, p.57). Assim o poeta se evade da casa e vai habitar o universo, vivendo “um ‘negativo da casa’, uma inversão da função de habitar” (1957, p.59), transcende o conforto e vai habitar a hostilidade de um universo caótico.


Quantas vezes o poeta-pintor, na sua prisão, não perfurou as paredes com um túnel! Quantas vezes pintando o seu sonho não se evadiu por um fenda na parede! Para sair da prisão todos os meios são bons. Em caso de necessidade, o absurdo, por si só, liberta. (BACHELARD, 1957, p.159).

Esse espaço que escoa, porque é um espaço imaginado, também concentra o atributo de diluir as dimensões, onde o ser imaginante transpõe grandezas á medida de sua dimensão íntima. Trata-se aqui da dimensão da intimidade que rompe com as dialéticas das “intuições geométricas” (1957, p.216): “O aquém e o além repetem surdamente a dialética do interior e do exterior: tudo se desenha mesmo o infinito. Queremos fixar o ser e, ao fixá-lo, queremos transcender todas as situações para dar uma situação de todas as situações. [...] Fazemos passar para o nível do absoluto a dialética do aqui e do aí. Atribuímos a esses pobres advérbios de lugar poderes de determinação ontológica mal controlada”. (BACHELARD, 1957, p.216).
Amplificar o espaço é, portanto aprofundar-se na matéria, a intimidade do homem e a intimidade da matéria ocupam aqui o mesmo lugar. O poeta intui o objeto e o objeto vem sonhar na alma do poeta: “O cofre é um calabouço de objetos. Eis que o sonhador sente-se no calabouço de seu segredo. Gostaríamos de abrir e gostaríamos de nos abrir”. (BACHELARD, 1957, p.100).
E apurando a distinção entre o mergulho nos objetos realizado pelos geômetras e pelos poetas, percebemos que, de fato, a luz poética difere da luz das geometrias quando esta vai iluminar o espaço concreto, tal análise extrai dele noções abstratas e fixas, já a luz poética, partindo do espaço concreto, é dinamizada por um impulso que é próprio do ser, a imaginação, deitando sobre ele seu gesto suplementar distorce seu realismo. “Pela novidade da imagem e por sua amplificação, estaremos certos de repercutir acima ou á margem das certezas racionais”. (BACHELARD, 1957, p.219). No entanto quando o devaneio do poeta emerge á superfície como linguagem, é justamente tateando o espaço concreto que ele cria:

De fato, o poeta traduziu para o concreto um tema psicológico bem geral: sempre haverá mais coisa num cofre fechado do que num cofre aberto. A verificação faz as imagens morrerem. Imaginar será sempre maior que viver. (BACHELARD, 1957, p.100)

Essa mudança do espaço concreto já não pode ser uma simples operação mental, como seria a consciência do relativismo das geometrias. Não mudamos de lugar, mudamos de natureza. (BACHELARD, 1957, p.210).


Bachelard nos apresenta também uma inconsistência de um objeto semântico, já que esse gesto suplementar da imaginação dá vazão aos seus desdobramentos, e aos desdobramentos do ser:

“Dar espaço poético a um objeto é dar-lhe mais espaço do que aquele que ele tem objetivamente, ou melhor dizendo, é seguir a expansão do seu espaço íntimo”. (BACHELARD, 1957, p.206).

“Muitas vezes, por mais que eu toque nas coisas continuo a sonhar com o elemento”. (1957, p.21).


Adentrar os espaços poéticos é confrontar-se com noções de um espaço rígido, semântico e legível, sublinho, porque é um espaço imaginado, portanto o ser que se expressa tem autonomia de ir habitar a cor, a sombra, o canto, a gravura, a curva, a palavra: “Mas, para expressar a sua maneira o que são esses universos criados pelo acaso nos confins de um desenho e de um devaneio ele vai habitá-los”. (BACHELARD, 1957, p.152).
Com certeza esse salto, essa luz poética da imaginação criadora nos ensina uma atividade cara á dinâmica que conduzimos nossos espíritos atualmente: a prática de meditar os espaços, que obriga a uma atividade lenta do espírito e solicita vivenciar a duração das imagens. Assim, á medida que nos ausentamos, mergulhados neste sono profundo, de meditar os espaços, de estarmos conscientes na emergência dessas imagens, nos alienamos de uma força criadora.
Deveríamos nos ocupar de meditar os espaços, de intuí-lo, aprender com a “ontologia do pressentimento”, nos recolhendo numa “pré-audição”, “superescutar” (1957, p.184). E toda essa escuta é conduzida de olhos fechados. Bachelard inclinado sobre um devaneio de Gaston Paris, acrescenta: “Com efeito ao acompanhar o conto somos obrigados a descer abaixo do limiar da audição, a ouvir com a nossa imaginação”. (1957, p.173).

Sabendo que existe uma produção de espaços, que somos fonte infinita de criação de lugares novos, e que tal dinamismo da alma é latente e ativo, nos sobra restituir essa prática, fruir de tal força criativa, sermos seres iniciadores, acrescentando coisas novos no mundo, criando novos espaços e indo habitá-los, aprendendo com os poetas e com a arte: “Das rosas pintadas por Elstir já dizia Proust que eram uma’variedade nova com a qual esse pintor, como um engenhoso horticultor, enriquecera a família das rosas”. (1927 apud BACHELARD; GASTON 1957, p.17)².


¹Pierre-Jean Jouve, En miroir, ed. Mercure de France, p. 11.
²Marcel Proust, A la recherche du temps perdu, t. V: Sodome et Gomorrhe, II, p. 210.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

TRANSGREDIDO

Porque não reconhecer como outro aquele que sempre foi coisa.
Aquele que é a condição para qualquer devir ser, deve ser
percebido para que enfim sejamos outros.
O que reside no espaço para que o poder sempre tente
domina-lo.
A condição contemporânea carrega uma pulsão, podemos num
mesmo mergulho ir ao fundo ou buscar à margem.
Acabo sempre sentindo a leveza do espaço transformando
minhas superfície. O espaço que atua na superfície busca vontades.
Quais vontades este espaço ja teve?
O espaço ja se quis como infinito algo imensurável. Essa vontade
"parece ter sido tomada como alternativa à uma impossibilidade"
( Duarte, F. Crise das Matrizes) e carrega a qualidade de que " A
incompletude do espaço se mantenha" essa vontade transformou
toda as vivências no espaço. Um espaço que negou sua porção vivida
e se funde "ao que poderia ser formulado através da linguagem
científica- o que faria o homen conceber o mundo além de todos os
seus limites carnais"
( Duarte, F. Crise das Matrizes).
Liberdade frágil essa que se livra do próprio corpo, se retira do
espaço do corpo.
O espaço científico incorpóreo tranca o espírito num quarto sem
janelas e faz a alma histérica por viver paixões vazias.
Por mais q se sinta o espaço assim ela já não o é mais, colocando em
cheque o quanto ele o foi.
Uma nova vontade invade o espaço, ele já não se queria como algo
que é livre das marcas do mundo, porém mesmo aceitando o
mundo a nova vontade não se despoja de suas vestes ideológicas.
O que esta novavontade quer?
Não sendo uma realidade apartada do convívio, surge a idéia de
que o espaço seja uma produção social, podemos observar uma
"morfologia social, não um quadro ou caixa em que os fatos
ocorrem; mas justamente essas ocorrências são simultaneamente
fatores da produção e sintomas dos fundamentos ideológicos
do espaço " ( Lefebvre, H. 1981 ).
O espaço vivido volta a ter importância para a concepção do espaço,
ele já não é tão acéptico, mas agora desperta algo que terá o
seu próprio querer. A produção do espaço proposta por Lefebvre
exige uma distinção . Obra de produto " Obra " algo único,
insubstituivel, e produto algo que resulta de gestos repetitivos
e que também é feito para ser infinitamente repetido"

( Lefebvre, H. 1981 ).
Novamente o espaço acaba sendo aprisionado por uma questão
ideológica que condiciona o uso e assim distorcer as vontades no
espaço, " ou seja , segundo certas ideologia as formas físicas e as
ordens de poder e convivio em um espaço, regeriam tacitamente
a vida de uma coletividade sob sua
influência , estando codificado de tal modo que poderia ser prodizido
em qualquer outra parte "
( Lefebvre, H. 1981 ). O espaço torna-se
uma extensão da força dominante, excluido de sua qualidade própria.
Porém é deste momento que surge na superfície um devir escondido.
Oculto porlinhas de força.
Lefebvre parte o espaço em 3 esferas há as praticas do espaço,
os espaços de representação e as representações do espaço .
Introduz- se o espaço percebido o vivido e o concebido
a partir dessa visão inaugura-se o devir transgreção do espaço.
O espaço concebido se confunde com produto pois é nele
"que as relações de produção de ordem, de conhecimentos, de signos
e códigos que formam o espaço, determinando sua vivencia e
permitindo sua reprodução"
( Duarte, F. Crise das Matrizes).
Agora podemos trazer para à margem uma vontade velha mas
com uma nova roupa, travestindo o velho espaço estéril em
espaço de controle. Novamente o controle não abandona a
constituição do espaço.
Bem mas não se falou de um devir que surgiu. Poderiamos crer que a
após a repartição do espaço e a vivência de sua dinâmica,
a hierarquização do espaço sobre a égide do espaço concebido,
faz do território o meio pelo qual os demais niveis se balizam.
Porém no lugar desperta-se o desejo pela transgreção e apartir
disso a criação de novos lugares se faz como parte elementar na
composição do espaço.
"O lugar é uma porção do espaço significada, ou seja cujos fixos e
fluxos são atribuidos signos evalores que refletem a cultura
de uma pessoa ou grupo"
( Duarte, F. Crise das Matrizes).
O lugar é uma ação de reterritorializante,"marca uma posição no
espaço é certo, mas sobre tudo uma posição cultural, na qual o
espirito eo corpo se encontram onde o ser se realiza"

( Duarte, F. Crise das Matrizes).

O lugar é a ponte que desata um nó, reterritorializando o
corpo no espaço, temos agora um lugar para o corpo.
Apartir disso "propõem-se que o ser se forma ( e forma)
entre o espaço, lugar e território, apartir das especificidades
com que certos fixos e fluxos são apreendidos e organizados"
( Duarte, F. Crise das Matrizes).
As linhas de força que condicionavam o espaço a uma essência
a um continuum, não se reconhecem em uma situação fluída,
transgressora. O espaço não hirarquizado evidência a
evolução do conceito de espaço. Mas porque e como através
da evolução do controle chega se a uma possibiliade de
liberdade?

INFORMAÇÕES

O wokshop começa na quinta às 14 hrs e vai até as 18hrs
nos demais dias começa às 10hrs e vai até as 6 hrs.
O local será a 54.
Tragam seus horizontes para alargar

domingo, 10 de agosto de 2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008






























DIGESTÕES DERIVANTES.

A sensibilidade se mostra como uma construção de particulas imaginárias. O espaço que criamos se faz com partes sutis , se mostram quando as esquecemos. Acreditar que o espaço é um corpo que se constroe com partes que deixamos nele, esquecer e perder-se é a melhor matéria para se construir. desovado por digones.

DERIVA

Num perdendo-se começa o passo para lugar nenhum,mesmo esse nenhum já sendo um lugar em mim.
Recolhidos por um peixe metalico que cria bolhas e nos desova cansado de tanto barulhar com agente. Porém , antes percorre uma avenida "tipo" pontos de bolhas e atratores de bolhas, é estranho estar numa linha tudo desce ao seu redor.
Outro som, mas varios conhecidos nas paredes . confundido com o silêncio um aspecto de vida se mostra impresso nas paredes.
As plantas são felizes neste lugaR.
Encontramos alguns pares desgarrados, casas sem muros e muros esperando as casas, acho q nem sempre eles andam juntos.
Numa brecha deixada pelo asfalto mostra mais vida do que os espaços que ele pegou.Um oásis, a vontade vence! Uma vontade de estar, isso é que chama a atenção , é o prazer de estar que é o segredo que o espaço reserva e uma porta para os desejos ele abre.
A mesma textura do solo se estende para as paredes, não há acabamentos nas casas, mal há casas acabadas.
Numa primeira visão, nada terminado pode transmitir abandono, problemas, mas no encontro de Luiz silvestre e um filho de orfão , pode se ver o que o espaço representa, a força.
Por isso as plantas vão tão bem neste lugar.